O ato de brincar é mais do que uma atividade recreativa, mas uma forma essencial de aprendizado para o desenvolvimento saudável das crianças. E a ludicidade desempenha um papel fundamental na formação cognitiva, emocional, social e física dos pequenos. No aspecto cognitivo, as brincadeiras estimulam a imaginação, a criatividade e o pensamento crítico, fundamentais para o desenvolvimento mental saudável. No âmbito emocional, o brincar oferece um espaço seguro e saudável para que as crianças expressem suas emoções, permitindo que lidem com sentimentos como alegria, tristeza e raiva de maneira construtiva.
Durante as brincadeiras, as crianças interagem umas com as outras, aprendendo a compartilhar, cooperar e negociar - habilidades fundamentais para as interações sociais ao longo da vida. Já no que diz respeito ao campo físico, o brincar envolve atividades que contribuem para o desenvolvimento motor das crianças, promovendo o fortalecimento muscular, a coordenação motora e hábitos saudáveis desde cedo.
A pedagoga Marta Gordiano, do Serviço de Orientação Educacional (SOE) do Ensino Fundamental I do Colégio São Paulo, destaca que a brincadeira é fundamental, pois ajuda a criança a organizar o pensamento e desenvolver as funções executivas, de planejamento e de organização.
“Nas brincadeiras, há negociação, exercício de habilidades sociais complexas, formação de valores e conceitos, como, também, o despertar de emoções e sentimentos acerca de quem você é. Essas vivências tornam-se parte do indivíduo. Logo, o brincar faz parte do desenvolvimento do ser humano e é nesta etapa em que ocorre o aprendizado, seja sobre coisas boas ou sobre como lidar com as frustrações, e o brincar é sobre isso, sobre alegrias, satisfações, e, também, a angústia e dor”, afirma.
Desenvolvimento linguístico
Outro ponto importante é o desenvolvimento linguístico. Enquanto brincam, as crianças têm a oportunidade de praticar a linguagem, seja conversando, contando histórias imaginárias ou inventando novas palavras e frases. Por fim, o tempo dedicado ao brincar também contribui para a redução do estresse infantil. As crianças podem se divertir, liberar energia e aliviar o estresse acumulado, promovendo um bem-estar emocional mais equilibrado.
Na percepção da diretora do Anchietinha Aquarius, Virgínia Lucas, é possível dar vez e voz para a criança, criando tempos e espaços na família, na escola, na comunidade, promovendo autonomia, de preferência em contato com a natureza e redução de estímulos artificiais. Para ela, o desafio é, nos cotidianos acelerados em que vivem, criar pausas para que as crianças possam viver suas infâncias e os adultos possam fazer essas escutas.
“Um provérbio africano diz: ‘é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança’. A criança aprende com o mundo que a rodeia. A grande aldeia, que é a sociedade contemporânea, deve proteger e educá-las, em especial no período da primeira infância, quando as conexões são ainda mais importantes. Cabe então, à escola, como parte da grande aldeia global, focar no protagonismo infantil, de forma que a criança aprenda, se desenvolva e seja tratada como ela mesma. A escola deve ser um contexto cercado de sensibilidade aos desejos dos pequenos, observando e respeitando seus movimentos e atitudes, escutando suas falas e seus silêncios”, ressalta.